Publicado em 14/12/2016
Imitar voz de criança para falar com bebês beneficia desenvolvimento cerebral, indica estudo
Se você é um daqueles que criticam os mais velhos por imitarem a fala de uma criança ao conversar com bebês, um estudo pode ser a prova de que, na verdade, eles sempre estiveram certos.
Sensores são usados em estudo para iinvestigar ondas cerebrais dos bebês
Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conduzem uma pesquisa com bebês e suas mães para entender como funciona o desenvolvimento do cérebro das crianças.
Os cientistas já
descobriram que eles aprendem melhor quando suas ondas cerebrais estão em
sincronia com as dos pais. E mais que isso: quando a comunicação é feita por
uma conversa com voz de criança ou por músicas infantis.
O estudo, que foi feito
com o escaneamento dos cérebros dos bebês, também sugere que eles precisam se
sentir seguros e amados para que as conexões no cérebro se formem propriamente,
levando ao aprendizado efetivo.
Ganhando foco
Para um recém-nascido, o mundo é como diversas ondas de imagens e sons, uma sobrecarga de informações.
Mas com o tempo ele vai
ganhando foco - os bebês logo aprendem a reconhecer rostos e vozes e, ao longo
dos meses, aprendem a engatinhar, entender a língua e se comunicar com quem
está ao redor.
Esse é um momento
crucial em nossas vidas, quando conexões importantes começam a ser formadas no
cérebro.
É para entender em
detalhes como isso acontece é que os pesquisadores de Cambridge estão
escaneando os cérebros dos bebês e de suas mães enquanto ambos estão
interagindo e fazendo novas atividades.
As primeiras descobertas
mostram que as crianças não aprendem tão bem quando suas ondas cerebrais e as
da mãe estão fora de sintonia. Mas, quando ambos estão plenamente
sincronizados, a assimilação de informação ocorre de maneira muito eficiente.
A pesquisadora Victoria Leong, que está
liderando a pesquisa, afirma que o estudo tem mostrado que os bebês tendem a
aprender melhor quando as mães se comunicam com eles usando uma voz bem calma e
tranquila, que até imita um pouco o jeito dos próprios bebês - ela costuma
chamar essa "língua" de "motherese" (linguagem de mãe, em
uma tradução livre).
Ela também aponta que
rimas musicais infantis também são uma forma efetiva de sincronizar o cérebro
das mães com o dos bebês.
"Pode soar estranho
para nós, mas os bebês realmente amam ouvir o 'motherese', até mais do que o
estilo adulto normal de falar. Prende a atenção deles melhor e também soa mais
claro. Então já sabemos que, quanto mais o bebê ouvir 'motherese', melhor será
o desenvolvimento de sua linguagem", explicou.
Leong explica que a
mesma máxima vale para os pais, avós e outras pessoas próximas - sempre que
ouvem rimas infantis ou a chamada "voz de criança", eles conseguem se
conectar melhor com o interlocutor.
A pesquisa, porém, é
focada apenas na interação entre mães e filhos por enquanto.
"O cérebro do bebê
está programado para responder ao 'motherese' e é por isso que essa é uma forma
muito efetiva de ensiná-los sobre coisas novas", diz.
A equipe de Leong também
descobriu que os bebês respondem melhor a interações quando elas são
acompanhadas de um contato visual, no olhar, mais prolongado.
Mães que cantavam
músicas infantis olhando diretamente nos olhos de seus bebês conseguiam a
atenção deles de maneira significativamente melhor do que outras que desviavam
um pouco o olhar, ainda que ocasionalmente.
Isso quer dizer que pais
"multitarefas" deveriam ficar preocupados se, de vez em quando, dão
uma olhada no celular enquanto estão cuidando de seus bebês?
"Não, nada
disso", esclarece Leong. "A maioria dos pais faz um trabalho ótimo
quando cuidam de seus filhos. O desenvolvimento do cérebro só será afetado em
casos extremos de negligência ou falta de atenção."
O próximo passo é tentar
entender o que acontece no cérebro desses bebês quando eles estão recebendo uma
"atenção de qualidade".
"Meu trabalho é
compreender os fundamentos neurológicos desses efeitos", diz a
pesquisadora.
"Como o cérebro do
bebê trata as interações sociais com sua mãe e como isso ajuda na
aprendizagem?", exemplifica.
Aprendizado
O cérebro humano demora muitos anos para se desenvolver - afinal, há muito o que aprender.
Os bebês exploram formas
diferentes de reconhecer o mundo - primeiro por meio de brincadeiras -, até
que, de repente, uma conexão é formada e fortalecida no cérebro. É aí que
podemos dizer que ele "aprendeu".
Mas de acordo com
Kirstie Whitaker, pesquisadora do Departamento de Psiquiatria de Cambridge,
algumas vezes essas conexões podem ocorrer rápido demais.
"Se os bebês têm
experiências mais estressantes logo no início da vida, seus cérebros acabam se
desenvolvendo de maneira muito rápida. E aí, em vez de desenvolverem as
melhores conexões, eles ficam com essas instantâneas", diz.
"É, portanto, uma
das razões pelas quais eu insistiria para que as pessoas criem um ambiente de
apoio e cuidado para permitir que as crianças explorem e permaneçam nesse
período de desenvolvimento do cérebro, que é particularmente curioso e flexível,
pelo maior tempo possível."
A pesquisadora Leong
acrescenta que o comportamento gerado pelo amor é essencial.
"Estimular a
conversa, dar atenção e passar um tempo junto é muito bom para o aprendizado
dos bebês."