Publicado em 21/07/2016

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Apesar de proibição, venda de 'pílula do câncer' é flagrada no RS

Com a venda proibida após a suspensão de uma lei que autorizava o uso, a fosfoetanolamina sintética, a chamada "pílula do câncer", é oferecida clandestinamente no Rio Grande do Sul. A reportagem do RBS Notícias flagrou a comercialização de cápsulas que seriam da droga por uma vendedora de Lajeado, no Vale do Taquari (veja no vídeo acima).

Distribuída pela USP de São Carlos por causa de decisões judiciais, a fosfoetanolamina, alardeada como cura para diversos tipos de câncer, não passou por esses testes em humanos, por isso não é considerada um remédio.

A reportagem chegou até um gerente de vendas que disse que queria comprar a droga para um amigo. Por telefone, uma vendedora deu detalhes do produto. "Ela disse que buscava no Paraguai. Disse que sabia que era irregular, que corria risco, mas que não ganhava nada em cima disso. O valor que ela cobrava era o mesmo valor que ela vendia."

O preço inicial seria R$ 1,2 mil, mas o executivo pediu um desconto e o valor baixou para R$ 600. Ele não fechou negócio porque o amigo morreu. O repórter da RBS TV Giovani Grizzoti se passou por sobrinho de uma paciente com câncer e conversou com a vendedora de Lajeado, no Vale do Taquari.

Na negociação, ela detalha que a remessa inclui 60 cápsulas, a um custo de R$ 600. Em seguida, é combinado o ponto de entrega do produto, na frente de um shopping, em Lajeado. Quem leva o suposto medicamento se apresenta como filho da vendedora. "É a primeira vez que ela vai tomar?", questiona o homem. Após a confirmação, ele explica que é preciso tomar três pílulas nos três primeiros dias. "Três por dia. E aí, depois, dois por dia."

O suposto medicamento é entregue em uma embalagem sem rótulo, bula ou qualquer informação sobre a procedência. 

Questionada sobre o risco de a cápsula não conter a fosfoetanolamina, a vendedora admite não saber e demonstra irritação durante as perguntas, possivelmente por temer que a ligação tivesse sido grampeada. "Queres complicar a vida de todo mundo?" 

O repórter, ainda se passando por um sobrinho de uma mulher com câncer, diz estar com "medo" por comprar um produto sem procedência.  A vendedora rebate: "E eu, então? Isso é proibido,  entendeste? Eu não quero que você fique ligando no meu telefone, não faça mais isso (...) Queres detonar com a nossa vida? Queres acabar conosco?"

Proibição aumentou procura, diz deputado

No dia 19 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu suspender uma lei, válida desde abril deste ano, que autorizou pacientes com câncer a usar a fosfoetanolamina sintética, a chamada "pílula do câncer". Foram seis votos a quatro. No mesmo julgamento, os ministros mantiveram suspensas decisões judiciais que obrigavam o governo a fornecer a substância.

O deputado estadual Marlon Santos, que defende o uso da droga, diz que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) proibindo o uso da "pílula do câncer" aumentou a procura no mercado negro. Segundo ele, até sites da China estão vendendo, pelo correio. E com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como mostra um selo.

"Quando chega pelo correio no Brasil, a Anvisa abre, olha, vê que é fosfoetanolamina. Em tese, carimba, assina, libera a entrada. Anvisa liberado." 

A delegada da Polícia Federal Maria Lúcia Wunderlich dos Santos reforça que a venda é crime. "Punido com reclusão de 10 a 15 anos, que é comercializar produtos sem registro na Anvisa, medicamento sem registro no órgão competente."

O médico oncologista Carlos Eugênio Escovar diz que o consumo do medicamento contrabandeado pode trazer riscos aos pacientes. "Não se sabe o que existe dentro desse comprimido. Qual a substância que tem ali. Pode ser desde uma substância inócua, então tem farinha, mas podem ter outras substâncias, inclusive, carcinogênicas, substâncias que gerem outros cânceres."

http://g1.globo.com/