Publicado em 11/08/2016
Promessa de cargos e de obras dá votos a Temer na ação contra Dilma no Senado
Estratégia permitiu que presidente em exercício ampliasse a vantagem em comparação com a primeira votação do processo no Senado, em maio
Na votação concluída na madrugada de quarta-feira, que aprovou a continuidade do impeachment de Dilma Rousseff, o presidente em exercício Michel Temer ampliou a vantagem que obteve há quase três meses, quando a petista foi afastada do Planalto. Os votos a mais foram conquistados com a promessa de distribuição de cargos a apadrinhados de senadores, a garantia de retomada de obras de interesse dos parlamentares e a atuação da trinca de peemedebistas do Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), e o presidente em exercício da legenda, Romero Jucá (RR).
Em 12 de maio, o Senado aprovou o afastamento temporário de Dilma por 55 votos a favor e 22 contra. Na ocasião, Renan não votou – ele, como presidente da Casa, tem essa prerrogativa –, houve duas ausências – Eduardo Braga (PMDB-AM) e Jader Barbalho (PMDB-PA) – e o suplente do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS), Pedro Chaves (PSC-MS), ainda não tinha tomado posse.
Na quarta-feira, o placar
foi de 59 votos favoráveis e 21 contrários. Desta vez, Jader, Braga e Chaves
votaram contra Dilma. O quarto voto pró-impeachment veio do senador João
Alberto Souza (PMDB-MA), que mudou sua posição - na primeira sessão foi a favor
da presidente e, agora, votou para julgá-la.
Mudança
Souza disse na quarta-feira
que mudou seu voto por "questões políticas": – A minha postura
foi em função da conjuntura política. Não foi em função de haver cometido ou
não o crime. É uma postura de achar que, no momento, fica muito difícil para a
presidente governar. Diga-se de passagem, Temer nunca pediu o meu voto. Mas,
evidentemente, conversei com o meu partido.
Temer acompanhou a sessão de
pronúncia por telefone ou por informes de ministros e aliados, entre eles
Renan, Eunício e Jucá. Os dois últimos se reuniram ao longo do Jader e Braga se
ausentaram da primeira votação alegando motivos de saúde e, ontem, apoiaram o
andamento da ação contra Dilma. Jader conseguiu um "upgrade" para o
filho entre os dois governos. Helder Barbalho, que foi ministro da Secretaria
Especial de Portos de Dilma, se tornou ministro da Integração Nacional de
Temer, pasta com forte influência nas regiões Norte e Nordeste.
Ex-líder do governo Dilma e
ex-ministro de Minas e Energia da petista, Braga manteve, segundo
interlocutores de Temer no Congresso, aliados em cargos estratégicos no setor
elétrico. Chaves, o discreto suplente de Delcídio, conforme interlocutores do
governo, não pediu cargos no Executivo.
Na conta do Planalto, o governo
teria de 57 a 59 votos a favor. Acreditavam que teriam os votos de Elmano
Férrer (PTB-PI) e Otto Alencar (PSD-BA) — reservadamente, Renan garantiu que
conquistaria os dois. Otto e Elmano, contudo, votaram contra tornar Dilma ré.
A novidade ficou por conta dos
votos de Cristovam Buarque (PPS-DF) e Romário (PSB-RJ). Os dois, mesmo tendo se
posicionado em maio pelo afastamento de Dilma, não eram contabilizados como
apoio a Temer. Romário emplacou a ex-deputada Rosinha da Adefal na Secretaria
dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Justiça. Ele ainda quer
um indicado dele em Furnas. Romário nega barganhar cargos.
Obras
Ao se aproximar de Temer, Renan sugeriu ao presidente em exercício uma parceria para a conclusão de obras. Temer topou e conseguiu um pretexto para se reunir com senadores. Renan, o único a não votar ontem, tem se esforçado para acelerar o impeachment. Embora negue indicações, ele manteve Vinícius Lages na presidência do Sebrae e avalizou o ex-ministro de FHC Juarez Quadros para o comando da Anatel. Renan ainda deve garantir o deputado pelo PMDB alagoano Marx Beltrão ou outro nome no Turismo.