Publicado em 23/08/2016
Sem troco, Metrô de São Paulo já dá desconto para 3 em cada 10 usuários
Apenas no 1º semestre, abonos resultaram em perda de arrecadação de R$ 2,7 mi; companhia afirma que problema é provocado por queda na circulação de moedas
Alerta de tarifa reduzida. Contratempo começou em janeiro, quando o bilhete individual passou de R$ 3,50 para R$ 3,80
SÃO
PAULO - Em meio à crise econômica, o Metrô de São Paulo deixou de arrecadar R$
2,7 milhões com a venda bilhetes unitários no primeiro semestre deste ano só
por causa dos descontos dados por falta de troco. Do total de passagens
adquiridas por usuários em estações da companhia, 30,5% tiveram algum tipo de
abono. O Metrô afirma que o problema é provocado por queda na circulação de
moedas e que o valor corresponde a 0,3% da arrecadação tarifária.
O
contratempo começou após o aumento da tarifa, em janeiro, quando o bilhete
passou de R$ 3,50 para R$ 3,80. Com o valor “quebrado”, as bilheterias
encontraram mais dificuldade para dar troco. Desde então, quando ficam sem
moeda suficiente, elas passaram a aplicar desconto a partir de R$ 0,05 e a
limitar a compra a um bilhete por passageiro. Em alguns casos, as estações
chegaram a vender a passagem por R$ 3 – 21% abaixo da tarifa básica.
Dos
54,9 milhões de bilhetes vendidos no primeiro semestre deste ano, 16.758.185,
ou 30,5%, tiveram desconto. O porcentual foi crescendo ao longo dos meses:
enquanto em janeiro as passagens arredondadas representaram 4,75% do total, em
junho esse número já era de 59,7%, ou seja mais da metade das entradas
vendidas. O valor médio cobrado foi de R$ 3,64.
O
impacto na arrecadação do Metrô foi de R$ 2,7 milhões, muito superior ao de
outros sistemas de transporte. Ao todo, a companhia recolheu R$ 205,3 milhões.
A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), por exemplo, que também é
administrada pelo governo do Estado, vendeu 1.915 bilhetes unitários magnéticos
com desconto. O prejuízo foi de R$ 133,25.
Já a São Paulo Transporte
(SPTrans), da Prefeitura, que administra o sistema de ônibus, disse não ter
registrado perda, uma vez que o repasse das viações por passagem vendida é
fixo. Ao todo, 104,1 milhões de passageiros pagaram em dinheiro para andar de
ônibus de janeiro a julho de 2016 – ou 6,25% do total de embarques.
Segundo o engenheiro de tráfego
Horácio Augusto Figueira, a diferença se explica pelo fato de que os usuários
da CPTM são geralmente moradores de cidades-dormitório e precisam usar o
sistema diariamente. “Por ser planejado, eles usam mais o Bilhete Único e
compram menos os unitários”, diz o especialista. Por sua vez, o Metrô seria
mais utilizado por turistas, além de estudantes e trabalhadores temporários,
que recorrem mais às bilheterias.
Figueira defende que todos os
sistemas de transportes devem arredondar as tarifas para facilitar o troco.
Para que as companhias não tenham perda com a inflação, ele propõe que seja
feito um cálculo com base na frequência média de viagem do usuário. “Em um
reajuste, cobra acima. No outro, compensa, deixando a tarifa abaixo.”
Em conta
Os descontos nas estações fizeram
até o assistente de suporte técnico Gabriel Assis, de 21 anos, preterir o
Bilhete Único. “Na bilheteria quase sempre tem desconto. No Bilhete Único não
tem jeito”, diz o jovem que, na maioria dos casos, usou o Metrô por R$ 3,50.
“Foi para lá de dez vezes. No final do mês, dá para economizar um bom
dinheiro.”
A mesma opção é feita por
passageiros que não precisam fazer integração no sistema de transporte. Usuária
da CPTM, a arrumadeira Elisângela Fernandes, de 30 anos, também prefere encarar
a fila da bilheteria para voltar para casa em Suzano, na Grande São Paulo. “Eu
tenho Bilhete Único, mas aqui fica mais em conta”, diz.
Já a diarista Socorro Lima, de 45
anos, teve receio de comprar a passagem quando soube do desconto na bilheteria
do Metrô. “Fiquei com medo, porque tem muita gente vendendo do lado de fora, o
que é errado”, afirma. “Mas quando eu vi que tinha uma placa avisando da falta
de troco, comprei.”
Moedas
O efeito do arredondamento da
tarifa básica do Metrô representa 0,3% da arrecadação tarifária, segundo a
companhia. “Como é sabido, o Metrô, assim como o comércio em geral, tem
enfrentado o problema da falta de moedas em circulação, admitido pelo próprio
Banco Central”, disse, em nota.
A companhia afirmou que solicita,
desde o início do ano, aumento na cota de distribuição de moedas e também faz
campanhas para que os usuários usem moedas.
Já a CPTM disse que abastece
bilheterias com moedas e cédulas de menor valor todos os dias, além de ter
intensificado campanha como a do Metrô.
O Banco Central disse que a produção de moeda foi afetada desde 2014 por “necessidade de redução de despesa pública”, mas que a área técnica tem administrado os estoques para atender às demandas. “Já foram tornadas disponíveis, até 19 de agosto, 352 milhões de unidades de novas moedas.”